Noite de chuva, aqui estou caminhando com meus pensamentos em ruas desertas assim como meu corpo, ruas sem vida, sem música, só o barulho da chuva que molha meus sentimentos. Sigo a caminho de casa, ao meu lado os levo dividindo esse temporal dentro de mim. Eles me seguem não sei até quando mas enquanto ao meu lado estiverem terei que aceitá-los, até encontrar forças para que ao meu lado não estejam mais.

 

Eles acordam comigo, passam o dia, a noite, posso apresentá-los, mas não desejo que eles te acompanhe, são fortes e persistentes, se aproveitam da minha atual situação para dominar-me e sugar minhas forças. Bem, posso começar por um que é o mesmo tormento de muita gente, até das causadoras de sofrimentos. Ele é forte, destemido, destrói a vontade de viver de muitos, é sarcástico, me acompanha uma boa parte do tempo, me grita em momentos de pensamentos, machuca na hora de dormir, rasga minha alma nas noites de sonhos. Olho para o lado não tenho a quem falar, chega a hora de dormir não tenho quem abraçar,, bom dia não existe quando em um novo dia sozinho ainda estou, ele é responsável por tudo isso, quando quer me olhar nos olhos e grita: -estás só!!!

Eu na minha condição de fraqueza abaixo a cabeça humildemente e respondo: quero que vá solidão!. Ele por ser persistente não aceita deixar-me, tenho que aceitá-lo até a vida em sua sentença me livrar.

 

O outro é um pouco pior pois vive preso dentro de mim, é difícil esquecê-lo. O outro é vencido na companhia dos amigos, da família, esse que mesmo que o mundo esteja comigo ele grita dentro do meu peito, ri da minha cara, tudo que olho nele me lembra, ele é estupidamente um assassino, covarde, com um punhal me rasga a alma, me faz chorar sem ter lágrimas, gritar sem ter voz, ser um eterno doente desse sentimento. Ele tenta me provar que não sou ninguém, por mais que lute o objetivo não irei conquistar, me sinto incapaz de não ter o que era meu, ele me domina, não me deixa só um segundo dos minutos, quando penso que foi embora ele volta me trazendo seu maior dom: a SAUDADE. Ele é cúmplice da solidão, os dois armam para não me ver bem, ter alguém ,dizer eu te amo! me fazem viver de frio, medo, receio, dor e fraqueza...

 

Agora o outro é o sangue que não corre mais em minhas veias, é o desespero de um louco, é a fraqueza que chega para sugar quem não tem mais forças. São os olhos de quem só ver os dias em chuva, é o frio de quem tem alma congelada, é ter inveja de quem é amado, é a descobertas dos sentimentos não mais vividos, dos momentos esquecidos, das frases ditas hoje esquecidas, das declarações degustadas hoje vomitadas, das declarações de sentimentos prometidas a não serem esquecidas, hoje apenas declarações das preocupações a dois, hoje apenas momentos, futuros combinados hoje apenas uma combinação sem sentido, dos espetáculos da vida apreciados hoje uma peça teatral que ao sair do palco a fantasia é guardada para o próximo, das viagens acompanhadas da lua hoje da solidão, o mar como padrinho hoje apenas como vizinho, das músicas marcadas hoje simples discos arranhados, dos olhares de intensidade hoje desviado de refúgio, de ser o primeiro em tudo hoje ser o último, do cheiro inconfundível hoje marcado com novos perfumes, do grande amigo hoje confundido com inimigo, da cumplicidade e do cuidado da família, dos desejos, das alegrias, dos planos, do orgulho, do amor, hoje esse companheiro é a realidade de não ter mais tudo isso, é a minha realidade que não volta atrás porque ela se chama o FIM. A certeza que tudo acabou. Nada volta atrás. Agora é esperar que o tempo traga consigo a solução para que esse companheiro logo se vá, já que o tempo não traz consigo a solução para esse amor aos meus braços voltar! e eu consiga fazer que esses três companheiros para longe eternamente se vá!

M.C  — 19 de Abril de 2009